O novo tarifaço dos Estados Unidos contra a China e outros países não é apenas uma manobra comercial. Ele representa um divisor de águas para quem trabalha com concessão de crédito e análise de risco. Em apenas quatro dias após o anúncio das tarifas, algumas superiores a 100%, o S&P 500 perdeu US$ 5,8 trilhões em valor de mercado. O recado está dado: estamos entrando em uma era de volatilidade sistêmica.
A imposição de barreiras comerciais impacta diretamente cadeias de suprimento, custo de produção, demanda global e estabilidade cambial. Empresas dependentes de componentes importados ou de mercados internacionais estão vendo suas margens pressionadas e sua capacidade de pagamento comprometida.
Modelos preditivos de crédito baseados em dados históricos não estão preparados para esses choques. A inadimplência, antes associada a risco financeiro individual, passa a ser influenciada por variáveis externas como flutuações cambiais, sanções, gargalos logísticos e movimentos regulatórios.
Aqui entra o papel estratégico da Inteligência Artificial. Com modelos flexíveis e alimentados por dados em tempo real, é possível antecipar riscos sistêmicos e reclassificar clientes e setores com base em variáveis macro. Isso inclui desde dependência de importações tarifadas até exposição cambial e cenário regulatório de cada país.
Empresas que já adotam IA na análise de crédito têm hoje uma vantagem competitiva clara: conseguem recalibrar seus modelos com rapidez, adaptando limites, garantias exigidas e apetite ao risco conforme o contexto externo muda.
Outro ponto vital: tecnologia também é risco. Empresas que concentram seus dados e sistemas em fornecedores de uma única jurisdição (como EUA ou China) estão vulneráveis a rupturas por sanções ou embargos. Diversificar fornecedores de tecnologia, adotar nuvem híbrida e garantir alternativas locais passa a ser parte da estratégia de continuidade operacional.
A guerra comercial reacende o alerta: risco de crédito não é mais uma questão puramente financeira — é estratégica. Executivos C-Level precisam olhar para seus modelos e perguntar: estamos preparados para um mundo fragmentado e volátil?
Quem conseguir antecipar os impactos geopolíticos nos seus modelos de risco, reforçar seus testes de estresse e investir em infraestrutura resiliente vai transformar a incerteza em vantagem competitiva.

Redação Datarisk